domingo, 18 de novembro de 2012


   DITADOS POPULARES,

           UMA RIQUEZA QUE DEVEMOS CONSERVAR E TRANSMITIR ÀS GERAÇÕES MAIS JOVENS

         O AMOR nos provérbios: 

         Quem corre noite fria para me encontrar, muito amor fica para lhe dar.

         Amor ausente, amor para sempre. 

        Amor com amor se paga e com desdém se apaga. 

        Amor de libertina e vinho de frasco pela manhã bom, à tarde gasto.

       Amor e senhoria não querem companhia.

        Amor forasteiro, amor passageiro. 

        Amor louco, eu por ti e tu por outro. 

       Amores arrufados, amores dobrados.

       
                                                        Dicionário de Provérbios, Porto Editora
   

     
       

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mensagens dos meus poemas




          


                   Quando partes, rochas assolam o mar bravio,
                    bruxas ensaiam suas artes e o outono arde em estio.


                          Amor, cinza é a tua cor. 

          Obsessão é a manta perdida na praia deserta e afogada pelas ondas em fúria.

                         Amor, as nuvens são infinitas, mas as marés movediças

                         Num momento inicio sorrisos, num outro interrompo risos.

                         Teus lábios tocam a maresia de meus olhos






domingo, 29 de julho de 2012

OS BEIJOS DAS FADAS ANCESTRAIS



        No dia 8 de julho de 2012 tive o prazer de lançar o meu primeiro romance Os Beijos das Fadas Ancestrais. 

      Deixo aqui dois excertos, ficando à espera dos vossos comentários:


        « Lentamente Benedita fechou a porta e a imensidão da casa, agora inerte, tomou conta de si. A cortina do tempo, avassaladora e impiedosa, acabara de marcar mais uma madrugada de solidão depois de uma noite engalanada pela festa e pela música que embala sem que a conheçamos em todos os seus acordes.Adriano chegara já bastante tarde, jantara algo na área de serviço. Mas o passeio cadenciado pela orla marítima, as gargalhadas mútuas, as conversas que transpunham o mar em rumo incerto e encantador, os olhares de enlevo pelos dois corpos que se balanceavam entre si tinham colorido as últimas horas daquele dia de verão.A separação trouxera a negrura de uma noite de incertezas pelo mesmo mar agora agreste, de perguntas colocadas em frascos herméticos, de náusea entre a alvura dos lençóis. De muita guerra ao sonho. De muita guerra às fantasias de um leito sem o corpo que, àquelas horas por um caminho impossível de alcançar, gradualmente se distanciava do seu.Mais tarde, estaria longe!... Tão longe que seria apenas um pequeno ponto num horizonte que lhe era intransponível e cujo ardor, numa pele vaga, lhe doía tanto quanto daria prazer a quem nesse tempo o esperaria.»

«Era uma daquelas noites gélidas e alagadiças do Porto, Benedita fora arrastada até ao bar por Dulce na fase em que esta, pelo trabalho sazonal de guia-intérprete, podia ser fã de tertúlias que começavam depois da meia-noite e terminavam entre mesas repletas de garrafas esparzidas e copos sem cerveja quando o sol começava a mostrar-se. Então, era o Esquimó que esvaziava lugubremente e os seus frequentadores eram espécies vampíricas em fuga de um sol cuja plenitude os humilharia.
Benedita ouvia as declamações a beberricar um chocolate espesso que o Vítor, com toda a arte de gourmet, lhe trazia de um pequeno micro-ondas, onde previamente colocara uma barra de chocolate culinário.
Estava como usualmente sentada no canto mais escuro da sala e os seus pensamentos passavam por não ter trazido o carro e estar dependente da boleia da Dulce. Tinha esperanças que a amiga não estivesse num daqueles dias de divinal inspiração literária e optasse por deixar o bar um pouco mais cedo que o costume.
Contudo, estas esperanças foram goradas quando Benedita viu Dulce dirigir-se a três vultos votando-lhes uma receção efusiva. Recordou a célebre frase da amiga que sempre a fazia sorrir: temos de olhar para os homens como bifes!
Benedita não conseguiu vislumbrar com nitidez os três homens pela posição afastada em que se encontrava e também pela luz escassa da sala. O chocolate quente escorregava-lhe pela garganta como um néctar de conforto e segurança entre o frio lá de fora e a sua falta de jeito para encetar conversas com desconhecidos.
A primeira a declamar poesia foi uma jovem de porte despretensioso. Arrepiante! Os versos de Florbela Espanca transfiguravam a rapariga que não tendo mais de um metro e cinquenta se impunha abissalmente à sala. Benedita já não sabia se era aquela figura de vulgar casaco de lã vermelha que, projetando a voz, aquecia todo o despretensioso mobiliário do Esquimó, se era a gigantesca figura atrás dela, marcada na parede por uma sombra em revelia, que tinha o condão de emitir aquele brado tão possante e tão desesperadamente apaixonado.
Foi então… e aqui não há outras palavras para o exprimir… foi então: que o viu! Primeiro cativou-a a sua serenidade, a sua exclusão de todo o ambiente de emoção da sala! O seu olhar parecia parado, como que a moça de vermelho fosse Florbela Espanca e ele o psiquiatra que lhe cerceava as emoções para alcançar um diagnóstico científico. Pensou que ele talvez não apreciasse poesia e estivesse ali apenas por acaso, talvez arrastado por amigos mais dedicados à arte literária que ele próprio.
Seriam aí uma cinco horas da madrugada quando Benedita, agora nauseada pela segunda chávena de chocolate, foi despertada para a declamação que ele iniciara. Estava praticamente debaixo da única lâmpada existente na sala e umas enormes pestanas pareciam fios de chuva em noite de lua insegura.
O poema era O Mostrengo de Fernando Pessoa e a voz, quando monstro, fazia tremeluzir a luz incerta daquele compartimento do Esquimó.
Quando marinheiro, as palavras que vibrava eram de tal modo representativas de uma coragem crescente até ao final do poema que a assistência suspendeu a respiração durante alguns momentos, até a libertar em efusivos suspiros de alívio e braços à espera da frescura das imperiais.
Benedita estava então perfeitamente desperta e a beber águas com gás quando uma mulher se aproximou dele e lhe depositou um demorado beijo na face, ao mesmo tempo que se esticava para lhe colocar o braço à volta do pescoço. Benedita não tinha reparado antes na rapariga. Intuitivamente pensou que ela chegara já a altas horas da madrugada possivelmente vinda de outro lugar notívago… a moça era extremamente magra e as suas feições, de uma beleza muito banalizada nos meios rurais, eram entristecidas por uma pele baça e um olhar quase inerte, de uma melancolia em processo de revolta, obscura, obstruída por algo… mas isso não era importante. Que ligação teria ela com o representante de Pessoa ortónimo?
As ideias começaram a misturar-se-lhe com o sono e ainda algumas réstias de voltas intestinais.»



       

      Agradeço a todos os que me têm apoiado neste caminho pela escrita!


Emília Lemos